29.2.08

A direita playboy

Dois excelentes artigos de Olavo de Carvalho publicados recentemente merecem leitura atenta e suscitam algumas reflexões. Um deles, intitulado Poligamia na Grã-Bretanha, parte da recente revelação de que, no Reino Unido, os indivíduos envolvidos em casamentos polígamos — leia-se, muçulmanos — receberão, da parte da segurança social, pensões tantas quantas as mulheres com quem estejam casados, o que corresponde, no mínimo, a um reconhecimento de facto da poligamia, ainda que no quadro legislativo continue a ser ilegal. Olavo de Carvalho descreve esta situação e relaciona-a com a insidiosa e suicida revolução cultural em curso. Para além do interesse do artigo em si mesmo, um outro ponto de interesse é, para mim, a ligação possível, até inevitável com o segundo artigo, sobre o futuro da direita no Brasil.

Aqui surge uma primeira reflexão: as semelhanças entre a realidade política brasileira, tal como descrita por Olavo de Carvalho, e a realidade política portuguesa são de tal ordem que não deixam de provocar espanto. Desse cenário destacaria a progressiva esquerdização cultural da sociedade e a ausência de alternativas credíveis à direita do espectro político. Uma segunda reflexão resulta da primeira: se a situação é tão semelhante nos seus problemas, as soluções podem ser semelhantes, e a reflexão de quem pensa à direita deve ser feita cá tendo em consideração a que lá se faz. Nesse sentido, a participação de Pedro Sette Câmara n’O Insurgente e a atenção prestada pela revista Atlântico a algumas figuras da direita cultural brasileira — refiro-me às entrevistas de Bruno Garschagen a Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho, entre outros —, são trilhos que urge alargar e multiplicar.

Voltando aos artigos: no segundo, O futuro da direita, Olavo descreve uma direita que partilha com uma certa esquerda, que por cá designamos “esquerda caviar”, todo um programa cultural. As diferenças entre esta esquerda e aquela direita — para a qual proponho a designação “direita playboy” — situam-se apenas no plano económico e no peso do estado na sociedade. De resto, ambas deploram as raízes da civilização que lhes serviu de berço e onde livremente campeiam. Uma e outra usufruem da beleza e da protecção da cúpula de um edifício do qual destroem persistentemente os alicerces; ambas puxam lustro aos seus frisos e tratam de minar os seus alicerces. Não percebem que cúpula e frisos desabarão sobre eles próprios como resultado do seu empenho.

A direita playboy, em suma, não vislumbra que os valores mesmos que estima serão letra morta numa sociedade dominada pelo totalitarismo da esquerda materialista, a qual acabará por sucumbir à revolta dos seus aliados no combate contra a sociedade ocidental: os extremistas islâmicos.

21.2.08

A resistência dá frutos

A Melanie Phillips remete hoje para o site do jornalista Daniel Pipes, o qual dá conta de um caso que constitui um exemplo e um encorajamento para a resistência das sociedades ocidentais contra a ofensiva global islâmica. Organizações islâmicas nos EUA e no Canadá, perante a veemente e reiterada condenação pública dos media e dos tribunais americanos, recuaram no apoio a taxistas que se recusavam a transportar cegos acompanhados dos seus cães-guia ao abrigo da sharia - lei que, ao que parece, considera o cão um animal imundo, determinando que a saliva dos cães invalida a pureza ritual necessária para a oração. A conclusão de Pipes, que Phillips reitera e que eu subscrevo, é que quando as sociedades ocidentais realmente se mobilizam na defesa dos seus princípios o radicalismo islâmico é derrotado. O problema não é, portanto, a incapacidade do ocidente resistir à instauração progressiva de califados, onde impera a lei islâmica e onde os não islâmicos são cidadãos de segunda classe; o problema é generalizada ausência de valores para defender; é o niilismo e o relativismo. Uma sociedade que condena (justamente, de resto) os maus tratos sobre os animais - que classifica esses maus tratos como desumanos - e que institui o "direito ao aborto" como um dos direitos humanos, é uma sociedade doente e que não tem nada por que valha a pena resistir.

17.2.08

Princípio da reciprocidade

Nesta semana, surgiram na blogosfera vários postais que abordam, de uma maneira ou de outra, a questão da liberdade religiosa. No Fiel Inimigo, a destruição de um centro cultural cristão em Gaza, ocorrência vulgar, que passa impune nas áreas sob tutela da Autoridade Palestiniana. No blogue da Atlântico, a guetização dos cristão coptas, obrigados a viver isolados em bairros sem quaisquer condições de salubridade, dedicando-se a actividades impuras para os muçulmanos, de modo a poder sobreviver - uma vez que não conseguem emprego em outras áreas de actividade. Pior: são cidadãos de segunda também quando chega ao momento de recorrer à polícia, que não só não lhes presta a devida assistência em caso, por exemplo, de sequestro de jovens de sexo feminino em idade nubente, como ainda colabora com os sequestradores, os quais "convertem" coercivamente ao islão as sequestradas através de casamentos forçados. Em Dezembro, O Lidador considerava a declaração unilateral de independência do território sérvio do Kosovo uma vitória da ofensiva islâmica no coração da Europa, facilitada, entre outras coisas, pela limpeza étnica, cultural e religiosa - da qual a destruição de 150 igrejas cristãs em cinco anos é exemplo - perante a passividade das forças europeias que deviam assegurar a ordem na região. Enquanto isso a Zenit informa que, na Argélia, na sequência da aprovação de uma lei «sobre o exercício das práticas de culto não-muçulmano», um sacerdote católico foi condenado a um ano de prisão, por ter «dirigido uma cerimônia religiosa em um lugar que não foi reconhecido pelo governo». Os exemplo de opressão até à morte dos cristãos no mundo muçulmano multiplicam-se, enquanto no ocidente os muçulmanos gozam de direitos que a ninguém reconhecem em termos semelhantes: a liberdade religiosa, a liberdade de culto e o direito a desenvolver acções que visem a propagação pacífica da fé. Bem sei que a liberdade religiosa é um pilar do nosso ordenamento social, mas a mim, que não percebo nada de política, nem de diplomacia, nem de direito, parece-me que estamos a dar-lhes a corda com que nos hão-de enforcar. Pergunto-me se não devíamos adoptar algo semelhante ao princípio da reciprocidade, reconhecendo aos outros os direitos que nos reconhecem a nós. É que por este andar, com a destruição de igrejas onde podem e com a construção de mesquitas onde querem, a islamização global e a destruição do mundo cristão serão apenas uma questão de tempo.

11.2.08

11 de Fevereiro, Dia de Luto neste blog

Assinala-se hoje o primeiro aniversário do referendo que conduziu à legalização do aborto em Portugal. Passado um ano, ficaram por cumprir as promessas de implementar as "boas práticas", de acordo com o modelo alemão. Esta é, para mim, a maior e mais infame mentira do primeiro-ministro José Sócrates, proferida inúmeras vezes na última semana de campanha e, por uma última vez, no dia do referendo, em conferência de imprensa, após a apresentação das primeiras projecções. No dia seguinte, o sr. Alberto Martins, líder da bancada parlamentar do PS, apontou a direcção que a regulamentação viria a tomar, perante o silêncio do secretário geral do mesmo partido, o sr. Primeiro-ministro José Sócrates. Passado um ano, fazem-se os primeiros balanços. Alguns sectores da nossa sociedade procuram manter o assunto na ordem do dia, enquanto outros acusam os primeiros de ressabiamento e falta de sentido democrático por insistirem em discutir o tema e por não se conformarem com a presente situação. Esquecem-se os críticos que eles próprios, durante os nove anos que mediaram os dois referendos, estiveram em permanente reivindicação da realização do segundo e em ininterrupta campanhada pela aprovação. E não compreendem que o inconformismo resulta de um imperativo ético, de não poder aceitar com placidez a matança de seres humanos inocentes. Voltarei a este tema, segundo a perspectiva apontada por João Gonçalves no postal A banalização do mal, seguindo a linha esboçada no comentário que fiz ao mesmo.

8.2.08

Britanistão

Este postal remete para diversos blogs que hoje se debruçam sobre a capitulação cultural e religiosa do responsável máximo da Igreja Anglicana face à islamização do Reino Unido. Por falta de tempo (e de talento, convenhamos), limito-me a colar as hiperligações desses blogs. Acaba por ser também um bom pretexto para adicionar algumas hiperligações à lista. Começo pela Melanie Phillips, jornalista inglesa, conservadora. Quando me sinto em alta, vou ao seu blog e volto às misérias do mundo e à pequenez das minhas euforias. É um estabilizador do humor especialmente eficaz para as fases maníacas. Como todos os tratamento para a mania, pode provocar uma viragem para a depressão. Recomenda-se uso moderado e monitorização dos sinais de viragem. http://www.spectator.co.uk/melaniephillips/492106/the-archbishops-speech.thtml Sigo para o Blogue Atlântico, que dispensa grandes apresentações. Embora com alguns jacobinos infiltrados, é um blog de referência, de consulta diária. Em conjunto com O Insurgente, substitui com vantagem a leitura dos jornais. Hoje, o Paulo Tunhas abriu as hostilidades com este postal: http://www.atlantico-online.net/blogue/2008/02/08/a-selvajaria-ontem-e-hoje/ Por último, o mais recente: o Fiel Inimigo. Os cavalheiros têm o sentido de humor de quem já se habituou a viver num mundo de pernas para o ar. Acho-lhes graça, mas, depois da gargalhada, fica a tristeza de conhecer mais uma miséria do mundo. Alguns dos redactores prestam o serviço altamente meritório e especialmente mortificante de monitorizar os campeões da esquerda moderna e dar-lhes forte nas caixas de comentários, o que lhes será útil na hora do Juízo. Bem hajam. Vê-mo-nos no purgatório. http://fiel-inimigo.blogspot.com/2008/02/poligamia-yes.html http://fiel-inimigo.blogspot.com/2008/02/sharia-na-canturia.html

5.2.08

A revolução insidiosa

Descobri o Olavo de Carvalho um pouco por acaso (quantas grandes descobertas são feitas por acaso), num processo tão típico dos nossos dias e das suas navegações cibernáuticas, através de uma hiperligação que leva a outra, e a outra ainda, tornando-se difícil, no fim, reconstituir o percurso. Comecei por ler os textos mais recentes que vai publicando em vários órgãos da imprensa brasileira; depois fui recuando para os mais antigos: a maioria dos textos são análises da realidade do Brasil, mas, na sua maioria, são plenamente compreensíveis para o leitor português normal – que não conhece a realidade brasileira – porque, mesmo quando fala sobre acontecimentos determinados e concretos da actualidade brasileira, Olavo de Carvalho fala de uma perspectiva assente em sólidos conhecimentos históricos, filosóficos, sociológicos e sempre com um aguçado sentido crítico. Depois comecei a ouvir o talkshow, onde se dá a conhecer um Olavo mais sanguíneo, desbocado, iracundo; neste dá também recomendações de leitura, as quais tenho procurado seguir. Passados alguns meses, posso dizer que Olavo de Carvalho é a personalidade que mais contribuiu para a definição da posição política que ocupo hoje. A leitura de alguns dos seus textos contribuiu para melhorar a minha compreensão de muitos fenómenos que me causam bastante desconforto. Depois de ler esses textos, esses fenómenos continuam a ser incómodos mas, ao ser capaz de os ver na perspectiva apontada por Olavo de Carvalho, ao desconforto provocado pelos fenómenos em si subtrai-se o incómodo de não os conseguir compreender. De entre esses textos começaria por destacar o segundo capítulo do livro “A Nova Era e a Revolução Cultural”: “Sto. Antonio Gramsci e a Salvação do Brasil.” Neste texto, Olavo faz uma apresentação crítica do pensamento do ideólogo marxista Antonio Gramsci, do seu ponto de partida, da sua estratégia, da aplicação da estratégia e faz o ponto da situação no Brasil dos anos 90 do sec. XX. É impossível ler este texto sem um sobressalto. Chega-se ao fim assustado mas mais alerta. E não se consegue deixar de reconhecer a situação descrita no Portugal dos primeiros anos deste século e no resto do mundo.

Colo a hiperligação para o texto completo: http://www.olavodecarvalho.org/livros/negramsci.htm

Colo também alguns destaques: “Gramsci transformou a estratégia comunista, de um grosso amálgama de retórica e força bruta, numa delicada orquestração de influências sutis, (…) mais perigosa, a longo prazo, do que toda a artilharia do Exército Vermelho. Se Lênin foi o teórico do golpe de Estado, ele foi o estrategista da revolução psicológica que deve preceder e aplainar o caminho para o golpe de Estado.” “Gramsci concebeu uma dessas idéias engenhosas, que só ocorrem aos homens de ação quando a impossibilidade de agir os compele a meditações profundas: amestrar o povo para o socialismo antes de fazer a revolução. Fazer com que todos pensassem, sentissem e agissem como membros de um Estado comunista enquanto ainda vivendo num quadro externo capitalista. (…)” “A estratégia de Gramsci virava de cabeça para baixo a fórmula leninista, na qual uma vanguarda organizadíssima e armada tomava o poder pela força, autonomeando-se representante do proletariado e somente depois tratando de persuadir os apatetados proletários de que eles, sem ter disto a menor suspeita, haviam sido os autores da revolução. A revolução gramsciana está para a revolução leninista assim como a sedução está para o estupro. Para operar essa virada, Gramsci estabeleceu uma distinção, das mais importantes, entre "poder" ( ou, como ele prefere chamá-lo, "controle" ) e "hegemonia". O poder é o domínio sobre o aparelho de Estado, sobre a administração, o exército e a polícia. A hegemonia é o domínio psicológico sobre a multidão. A revolução leninista tomava o poder para estabelecer a hegemonia. O gramscismo conquista a hegemonia para ser levado ao poder suavemente, imperceptivelmente. (…)”

Podia continuar a fazer destaques mas conseguiria apenas retalhar o texto, e o melhor é lê-lo todo.

Noutro postal a publicar brevemente pretendo apresentar um outro conjunto de textos muito elucidativos sobre a realidade do nosso tempo, os quais tratam do que Olavo designa por “Mentalidade Revolucionária”. Em conjunto com este que acabo de apresentar, constituem uma chave de leitura para alguns dos fenómenos políticos e sociais mais marcantes do sec. XX e do início do sec. XXI.

1.2.08

A Igreja como farol ético para a investigação científica

Quem tem ouvidos que oiça. Em discurso dirigido aos participantes de uma reunião da Congregação para a Doutrina da Fé, Bento XVI deixa clara a posição da Igreja no que respeita à investigação científica e às questões éticas que ela levanta. Alguns destaques retirados da notícia da Zenit: «O Magistério da Igreja certamente não pode e não deve intervir sobre toda novidade da ciência, mas tem o dever de reafirmar os grandes valores em jogo e de propor aos fiéis e a todos os homens de boa vontade princípios e orientações ético-morais para as novas questões importantes. Os dois critérios fundamentais para o discernimento moral neste campo são a) o respeito incondicional ao ser humano como pessoa, de sua concepção até a morte natural, b) o respeito à originalidade da transmissão da vida humana através dos atos próprios dos cônjuges.» E a respeito das questões ligadas ao congelamento dos embriões humanos, ao diagnóstico pré-implantatório, às pesquisas sobre células-estaminais embrionárias e às tentativas de clonagem humana: «Quando seres humanos, no estado mais fraco e mais indefeso de sua existência , são selecionados, abandonados, mortos ou utilizados como puro ‘material biológico’, como negar que são tratados não mais como ‘alguém’, mas como ‘algo’, colocando assim em questão o conceito próprio de dignidade do homem?» E, por via das dúvidas, para não ser acusado de insensibilidade para com o sofrimento dos que esperam da investigação científica uma cura para as suas doenças: «Certamente a Igreja aprecia e encoraja o progresso das ciências biomédicas que abrem perspectivas terapêuticas até agora desconhecidas, mediante, por exemplo, o uso de células-estaminais somáticas [adultas] ou mediante as terapias dirigidas à restituição da fertilidade ou à cura das doenças genéticas. Contemporaneamente essa sente o dever de iluminar as consciências de todos, a fim de que o progresso científico seja verdadeiramente respeitoso de cada ser humano, ao qual é reconhecida a dignidade da pessoa, sendo criado à imagem de Deus.»

Também de pão vive o homem

Mais uma notícia da Zenit que merece destaque: as organizações de ajuda ao necessitados da Igreja são exemplares do ponto de vista da gestão dos recursos, funcionando com custos mínimos de gestão: http://www.zenit.org/article-17422?l=portuguese "(...)Segundo o cardeal [Paul Josef Cordes, presidente do Conselho Pontifício «Cor Unum», organismo da Santa Sé responsável pela orientação e coordenação entre as organizações e as atividades caritativas promovidas pela Igreja Católica,], «seria útil que, por ocasião dos convites da mídia, lançados após calamidades como o tsunami, não só se indicasse o número da conta bancária ao qual destinar os donativos, mas também a porcentagem que as agências retêm para manter sua própria instituição». Isso, disse, «ajudaria o doador a discernir como sua doação chega aos necessitados». Neste contexto, assegurou, «o consumo interno das agências de ajuda da Igreja pode considerar-se como exemplar».(...)"

Pergunto: são conhecidos os custos de gestão das grandes ONGs?

O Shandy pai dizia temer pela sua saúde e pelas suas poupanças porque o seu médico e o seu banqueiro não eram crentes, logo não tinham um instância última, omnisciente e justa perante quem responder.