Descobri o Olavo de Carvalho um pouco por acaso (quantas grandes descobertas são feitas por acaso), num processo tão típico dos nossos dias e das suas navegações cibernáuticas, através de uma hiperligação que leva a outra, e a outra ainda, tornando-se difícil, no fim, reconstituir o percurso.
Comecei por ler os textos mais recentes que vai publicando em vários órgãos da imprensa brasileira; depois fui recuando para os mais antigos: a maioria dos textos são análises da realidade do Brasil, mas, na sua maioria, são plenamente compreensíveis para o leitor português normal – que não conhece a realidade brasileira – porque, mesmo quando fala sobre acontecimentos determinados e concretos da actualidade brasileira, Olavo de Carvalho fala de uma perspectiva assente em sólidos conhecimentos históricos, filosóficos, sociológicos e sempre com um aguçado sentido crítico.
Depois comecei a ouvir o talkshow, onde se dá a conhecer um Olavo mais sanguíneo, desbocado, iracundo; neste dá também recomendações de leitura, as quais tenho procurado seguir.
Passados alguns meses, posso dizer que Olavo de Carvalho é a personalidade que mais contribuiu para a definição da posição política que ocupo hoje.
A leitura de alguns dos seus textos contribuiu para melhorar a minha compreensão de muitos fenómenos que me causam bastante desconforto. Depois de ler esses textos, esses fenómenos continuam a ser incómodos mas, ao ser capaz de os ver na perspectiva apontada por Olavo de Carvalho, ao desconforto provocado pelos fenómenos em si subtrai-se o incómodo de não os conseguir compreender.
De entre esses textos começaria por destacar o segundo capítulo do livro “A Nova Era e a Revolução Cultural”: “Sto. Antonio Gramsci e a Salvação do Brasil.”
Neste texto, Olavo faz uma apresentação crítica do pensamento do ideólogo marxista Antonio Gramsci, do seu ponto de partida, da sua estratégia, da aplicação da estratégia e faz o ponto da situação no Brasil dos anos 90 do sec. XX.
É impossível ler este texto sem um sobressalto. Chega-se ao fim assustado mas mais alerta. E não se consegue deixar de reconhecer a situação descrita no Portugal dos primeiros anos deste século e no resto do mundo.
Colo a hiperligação para o texto completo:
http://www.olavodecarvalho.org/livros/negramsci.htm
Colo também alguns destaques:
“Gramsci transformou a estratégia comunista, de um grosso amálgama de retórica e força bruta, numa delicada orquestração de influências sutis, (…) mais perigosa, a longo prazo, do que toda a artilharia do Exército Vermelho. Se Lênin foi o teórico do golpe de Estado, ele foi o estrategista da revolução psicológica que deve preceder e aplainar o caminho para o golpe de Estado.”
“Gramsci concebeu uma dessas idéias engenhosas, que só ocorrem aos homens de ação quando a impossibilidade de agir os compele a meditações profundas: amestrar o povo para o socialismo antes de fazer a revolução. Fazer com que todos pensassem, sentissem e agissem como membros de um Estado comunista enquanto ainda vivendo num quadro externo capitalista. (…)”
“A estratégia de Gramsci virava de cabeça para baixo a fórmula leninista, na qual uma vanguarda organizadíssima e armada tomava o poder pela força, autonomeando-se representante do proletariado e somente depois tratando de persuadir os apatetados proletários de que eles, sem ter disto a menor suspeita, haviam sido os autores da revolução. A revolução gramsciana está para a revolução leninista assim como a sedução está para o estupro.
Para operar essa virada, Gramsci estabeleceu uma distinção, das mais importantes, entre "poder" ( ou, como ele prefere chamá-lo, "controle" ) e "hegemonia". O poder é o domínio sobre o aparelho de Estado, sobre a administração, o exército e a polícia. A hegemonia é o domínio psicológico sobre a multidão. A revolução leninista tomava o poder para estabelecer a hegemonia. O gramscismo conquista a hegemonia para ser levado ao poder suavemente, imperceptivelmente. (…)”
Podia continuar a fazer destaques mas conseguiria apenas retalhar o texto, e o melhor é lê-lo todo.
Noutro postal a publicar brevemente pretendo apresentar um outro conjunto de textos muito elucidativos sobre a realidade do nosso tempo, os quais tratam do que Olavo designa por “Mentalidade Revolucionária”.
Em conjunto com este que acabo de apresentar, constituem uma chave de leitura para alguns dos fenómenos políticos e sociais mais marcantes do sec. XX e do início do sec. XXI.