12.4.11

Descubra as diferenças (2)

Uma peça de teatro em cena no Reino Unido usa a iconografia cristã para a sua promoção. As autoridades religiosas de Inglaterra protestaram, sem consequências.
Não muito longe deste teatro, um outro amputou um texto clássico de Marlowe para não ofender os muçulmanos; e uma horda de sikhs exigiu que uma peça de teatro que consideravam ofensiva fosse retirada de cena, o que foi imediatamente feito.

O que é que um cristão há-de depreender de tudo isto: que os «artistas» e as autoridades políticas e de segurança não querem saber da sensibilidade religiosa, pelo menos da das pessoas que, à partida, não estão dispostas a usar a violência como meio de protesto.
O que é que um cristão há-de aprender de tudo isto: que, perante a cobardia e incompetência das autoridades políticas e de segurança dos países apóstatas do cristianismo, só há uma maneira de fazer valer as suas razões: a violência.
Será que os cristãos vão começar a agir de acordo com um raciocínio deste tipo? Por quanto tempo mais aceitarão impassivamente ver os seus símbolos profanados e a sua sensibilidade religiosa desprezada, enquanto os preceitos de outras religiões são defendidos pelas autoridades?

'Tis Pity She's a Whore - the Virgin Mary?

This is the poster designed to promote John Ford's 1633 play 'Tis Pity She's a Whore, which is being staged at the West Yorkshire Playhouse.

It has been criticised by the Roman Catholic Diocese of Leeds for using the image of the Virgin Mary with Christ. Indeed, it seems particularly provocatively timed to be displayed during Holy Week and on the run-up to Easter Sunday. John Grady, from the diocese, described it as 'crass' and a 'marketing stunt'.

His Grace is a little puzzled. The play is about Annabella and Giovanni, a brother and sister who involve themselves in an erotic, incestuous relationship in a corrupt and violent Italy. They pursue their illicit passions to the play's dark denoument.

Quite what that has to do with Jesus, Mary, Joseph and the donkey is completely beyond His Grace, other than that it's set in Italy and the play has a religious element, just as virtually all of them tended to during that era.

His Grace would simply wish to draw the attention of his readers and communicants to a performance of Christopher Marlowe’s Tamburlaine the Great in 2005 at the Barbican Theatre. The text, as written, demands the burning of the Qur'an on-stage with quite few cursings addressed to Mohammed. But the offending sections were cut so the audience did not hear Tamburlaine say that the Prophet was ‘not worthy to be worshipped’ or that he ‘remains in hell’. The artistic director, Simon Reade, said that such phrases ‘would have unnecessarily raised the hackles of a significant proportion of one of the world’s great religions’.

This great text was bowdlerised, essentially on ‘health and safety’ grounds.

And let us not think that theatres are attuned only to the sensitivities of Muslims: in the same year, some 400 members of the Sikh community descended on the Birmingham Repertory Theatre to demand the play Behzti (‘dishonour’) be cancelled because it caused them offence. The theatre duly obliged.

Christians will not, of course, descend upon the West Yorkshire Playhouse, and the theatre won't take a blind bit of notice of anything muttered by the Roman Catholic Diocese of Leeds. Instead, those who designed the poster will glory in a stunningly effective advertising campaign which has spread the length and breadth of the country without them spending an extra penny.

If (as, sadly, it appears) the theatres are once again to be censored by the Lord Chamberlain of equality and diversity, why is Christianity subsumed to what many may consider to be alien religions and foreign faiths?
Read more at archbishop-cranmer.blogspot.com
 

5 comentários:

Daniel Azevedo disse...

Caro Luis

No que toca à questão juridica estamos em sintonia. Aliás não percebo,nem posso aceitar, que numa democracia não se possa queimar o que nos pertence - assim como não se possa negar o Holocausto, a inquisição ou que a Terra gira em torno do Sol.

Mas nos anos oitenta os cristãos também pegaram fogo a um cinema em Paris aquando da Polémica do filme "A última tentação de Cristo".
Os judeus de Israel queriam proibir a exibição do "Jurassic Park".

É tudo uma questão de escala.

O problema aqui (e não só) é a Religião e a forma como o crente se sente justificado de agir irracionalmente porque age em nome do ditador do universo - tu também escreveste que quem profanou a biblia será castigado "mais tarde".

Luís Cardoso disse...

Caríssimo Daniel,

estamos de acordo até ao ponto em que opatas por escrever Religião, assim, com maiúscula, metendo-as todas no mesmo saco, numa recusa deliberada em ver as diferenças, que são gritantes - o que me entristece. Os próprios exemplos que dás de violência cometida por cristãos e judeus são de tal modo excepções face ao comportamento generalizado dos fiéis destas religiões e de tal modo característicos, e os exemplos inúmeros e mais graves - ao ponto do homicídio de escritores, tradutores, editores, caricaturistas, etc. - que basta para ver que o problema não é a Religião mas a Religião Islâmica. Conclusão a que não se pode deixar de chegar conhcendo os respectivos livros sagrados e as respectivas tradições exegéticas, as respectivas teologias e sua evolução.
Em suma: não é só uma questão de escala. Percebo que quem está de fora do fenómenos religioso, como tu, e quem acha isto de Deus uma coisa absurda, não se queira dar ao trabalho de descobrir as diferenças. Mas então, essa recusa em escrutinar as distintas religiões deveria dar origem a uma atitude cautelos quando chega ao momento de falar sobre questões de religião; não porque seja uma questão reservada aos que têm Fé, mas porque, à partida, há uma recusa em abordar com o rigor necessário um fenómeno tão complexo, não te parece?

A título de exemplo, aproveito a tua alusão à questão da justiça: para os cristãos, com a separação entre Igreja e Estado, há coisas que são da esfera do Homem e outras que são da esfera de Deus. Das primeiras tratamos nós e das segundas Deus tratará. A Justiça, assim, com maiúscula, será feita por Deus, quer a que diz respeito às coisas de Deus, quer a que diz respeito às coisas do Homem (porque a nossa justiça é imperfeita, com é evidente, uma vez que não somos omniscientes).
E os critérios de Deus não são os nossos e, por isso, não sabemos como aplicará Ele a Justiça.

E isto é a nossa maneira, dos cristãos, de ver estas coisas. Se reparares, eu não escrevi, como tu dizes, «que quem profanou a biblia será castigado "mais tarde"», mas «Provavelmente, ainda bem: as contas far-se-ão mais tarde e a polícia tem mais que fazer». Ou seja, Deus julgará com os Seus critério de Justiça e, sobretudo, com a sua Misericórdia. Digo «Provavelmente, ainda bem» porque, se fossemos nós a julgar com aquilo que pensamos ser os critérios de Deus, arriscaríamo-nos a julgar apenas com os nossos critérios e a fazer insjustiça.

Um abraço e até breve,

Daniel Azevedo disse...

Não queria estar a discutir crenças - não leva a nada porque cada um de nós acredita no que quer.

A pobreza da linguagem faz com que eu tenha que dizer que no que "acredito" são as leis da ciência. Leis que derivam da observação e que são universais - podendo qualquer um comprová-las.

A "complexidade" da Religião deriva da complexidade humana. E tal como há humanos psicopatas, haverá religiões que o serão também.

Quando me referi ao "serem" castigados, queria fazer referência ao facto de que tu também achas que eu serei castigado no fim por não acreditar no que tu acreditas - e não me digas que Deus é que sabe, pois a vossa crença assenta na palavra directa de Deus escrita na Biblia e os castigos estão lá explicitados.

Luís Cardoso disse...

Caro Daniel,

tu e a tua Fé na Ciência. A Ciência, mesmo a dura, está à mercê da complexidade humana, para usar a tua expressão, e não lhe resiste. Exemplo: a interferência ideológica e política no meio científico. Duas instâncias: na URSS, milhares de pessoas morreram de fome porque uma determinada teoria genética foi adoptada pelo partido. Durante anos, só se ensinou essa teoria nas aulas de genética nas universidades soviéticas. Mendel estava banido por se tratar de ciência burguesa (ainda para mais, era monge católico). Instância mais recente: toda a trapalhada à volta da ciência climatérica e meteorológica e do «aquecimento global», aliás, «alterações climáticas».
Em suma: a Ciência não é digna da tua fé. Como sabes, aquilo em que hoje acreditas, por ser verdade científica, amanhã pode ser diferente. Nada te garante que acreditas na Verdade, na realidade última e definitiva sobre o que quer que seja.

Quanto ao resto: é curioso: pareces saber melhor que eu próprio aquilo em que eu acredito.
Eu acredito que Deus criou o Homem e que lhe dá liberdade de querer estar com Ele ou de Lhe voltar as costas (Catecismo, nº1033. «Não podemos estar em união com Deus se não escolhermos livremente amá-Lo.(...)»). Estar com Ele é o Céu; rejeitá-Lo, o Inferno. A ausência de Deus é a maior pena. (Catecismo, nº1033, 1035).

Eu não acho que uma pessoa vá para aqui ou para ali porque não acredita no que eu acredito. Eu não sou Deus. A questão não é acreditar no que eu acredito, mas acreditar em Deus e fazer a Sua vontade. E esta conheço-a não da palavra directa da Bíblia, mas da reflexão teológica baseada nela, levada a cabo com o auxílio do Espírito Santo. Em todo o caso, nós, os cristãos, não consideramos que os que não crêem em Cristo sejam sub-humanos, não achamos que as suas filhas sejam «fair game» para os nossos apetites lascivos, não achamos que se lhes deva impor pela força física ou através de outros modos de coacção a nossa fé, não julgamos que se deva castigá-los pela sua incredulidade; temos amigos não crentes, comemos à mesa com eles, do mesmo prato. Só isto já é uma diferença muito grande entre as religiões.

Um abraço,

Daniel Azevedo disse...

Vou começar pelo fim e explicar – te que não pretendo saber no que acreditas ou não – apenas citei o que penso saber da crença cristã e do que me ensinaram nas aulas de religião.

Ciência é uma forma de pensar, de tentar explicar o que os nossos sentidos (frágeis, falíveis e limitados) nos transmitem acerca do universo. Tentamos arranjar modelos que nos forneçam leis que governam os fenómenos. Mas o que tu estás a esquecer-te quando falas das teorias genéticas dos soviéticos, é que a teoria deles não foi demonstrada e ensinada dogmaticamente. Ora isso não é método científico – no método científico eu tenho que poder reproduzir resultados e chegar à mesma conclusão.

Eu não tenho fé na ciência. Tal como não tenho fé na chuva nem no vento. Simplesmente é assim: comprovo-o todos os dias.
E não é verdade que o que acredito hoje amanhã será diferente, será mais preciso e eficaz (talvez) – a pedra continuará a cair na direcção da terra e não o contrário, não é?