3.5.10

Amata veritas, amandus Deus

Sobresto de caluniar o Papa e difamar a Egreja, um scripto que não nos acrescenta ao já aqui partilhado, mas louvável pela honestidade intelectual. Veja este toda a Verdade, dom d'Ela, e não só parte.
Não sou crente. Educado na fé católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. (...) Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.
Mãe do Céu, rogai por nós.

5 comentários:

MouTal disse...

Agradeço a sua passagem pelo meu Cartunes e bonecos...
Mas quero dizer-lhe que não humilhei ninguém,nem a igreja nem os seus padres e bispos.
Eles é que se humilharam ao praticarem actos contrários à moral.

Daniel Azevedo disse...

Pois é...
"A verdade tornar-nos-á livres"
Mas há certas verdades que muita gente gostaria que ficassem debaixo de algum tapete.

http://www.lalibre.be/actu/belgique/article/580225/les-eveques-n-ont-pas-reagi-a-87-plaintes-contre-des-pretres.html

E quem vive pela espada morre por ela, não é verdade?

Luís Cardoso disse...

Caros leitores e comentadores,

Nós católicos somos quem mais lamenta e se envergonha com os actos ignóbeis de ministros da nossa Igreja. São um escândalo ― no sentido bíblico de "pedra de tropeço ― e são chaga pregada no coração de Cristo.
Lede a Carta aos Católicos da Irlanda, de Bento XVI, para ver bem patente essa vergonha.

No entanto, há que ter consciência de que este caso está a ser amplificado para além da sua real magnitude ― o que se compreende, em certo sentido: à Igreja todos, crentes e não crentes, exigem, mais que palavras, o exemplo. Aqueles ministros falharam.

Quem quiser perceber este caso não pode deixar de ler os textos de Introvigne, o qual analisa todos os acontecimentos relevantes, desde a lassidão nos critérios de admissão e na formação de padres nos anos 60/70 do sec. XX, passando pela leniência na gestão dos casos em certa medida por uma fé cega nas técnicas psicoterapêuticas, por influência do peculiar clima social que pautou aqueles anos. Mais um exemplo de que a Igreja não pode deixar-se levar por ondas e tem de ser a rocha firme onde os fiéis arrependidos podem voltar depois das intempéries.

O que é absolutamente descabido é tentar envolver o Papa neste caso. Se algo Ratzinger fez foi chamar a si, enquanto Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé, os casos de abusos sexuais cometidos por religiosos e presbíteros para lidar com severidade com eles, após terem sido tornados públicos uma série de abusos no EUA, há para aí vinte anos.

Os inimigos da Igreja e do Papa não têm nada que apontar a Bento XVI e inventam, deturpam, descontextualizam em desespero. Mesmo que mediaticamente somem pontos, o saldo será sempre contra eles, porque a Verdade não pode ficar escondida muito tempo, mesmo que seja dolorosa.

Abraços voltem sempre,

Francisco Vilaça Lopes disse...

Olá Daniel, só agora consegui ler a notícia que me enviou há um mês, portanto as minhas desculpas e agradecimentos.

Sabe que não devemos ter medo da verdade, porque Jesus disse que a verdade nos libertará, o que não é o mesmo que dizer que a verdade é sempre agradável. De facto, muitas vezes a verdade é difícil de aceitar. Isto é estranho, porque a natureza humana é atraída inatamente para aquilo que é belo, bom e verdadeiro, e pressente que isso conduza à felicidade.

O que se passa é que o defeito não está no objecto do nosso conhecimento, na verdade ela mesma: está antes no observador. A nossa natureza está corrompida (doente) e por isso a verdade apresenta-se muitas vezes deturpada, como se tivéssemos cataractas ou miopia, ou mesmo uma cegueira completa, e não conseguíssemos ver o belo à nossa frente.

E também não é só no conhecimento do objecto verdadeiro que encontramos problemas; mesmo que eu visse com perfeita clareza o Bem Verdadeiro e Belo que almejo, também a nível subjectivo encontraria em mim uma resistência patológica. É como se estivéssemos com uma ressaca: custa-nos desapegarmo-nos de uma droga para recuperarmos a nossa saúde. De facto, o reconhecimento do objecto implica uma mudança no sujeito: quando eu vejo a verdade, eu devo aplicar a verdade à minha pessoa, e mudar. A alternativa seria ser um mero observador da verdade, sem que ela me tocasse, nem contribuisse para a minha felicidade.

Isto cria um ciclo virtuoso em que quanto mais verdade nós vemos, mais a aplicamos a nós mesmos, com esforço, e portanto mais corrigida fica a nossa natureza, que passa a ver melhor a verdade, e aí por diante. Assim se vai andando a caminho da felicidade última.

Mas mesmo que eu lutasse com corajosa virtude para me desintoxicar do vício que me impede de ver a verdade bela e boa, os meus esforços humanos, ainda que hercúleos e ao longo de toda uma vida, apenas desvendariam um conjunto limitado de conhecimentos, aquilo a que alguns chamam a revelação natural, e o Daniel poderá encontrar na filosofia, na matemática, nas ciências experimentais, na arte, ou na sabedoria popular. Esse conjunto limitado de conhecimentos não chegariam para me fazer feliz, porque ainda que reflexo do Bem Belo e Verdadeiro, não O são em essência. Por isso, para eu aceder à verdade que está acima da minha natureza, a verdade sobrenatural, é preciso que ela se revele à minha pessoa. Isto é, a Fé é um dom de Deus; não a fé na simples existência de Deus, porque lá também chegaram os filósofos pagãos mais virtuosos, mas a Fé no Deus da Igreja Católica.

Parece-me que o Daniel está à espera que a Igreja seja a imagem terrena do Deus perfeito, bom, belo e verdadeiro, mas paradoxalmente vê maldade dentro dela e sente também em si uma inércia para aceitar e se comprometer com a verdade que ela ensina. Mas a maldade na Igreja é em si mesmo uma verdade boa e bela, digna de meditação e agradecimento a Deus, porque nos ajuda a compreender melhor o tamanho do amor de Deus e do seu perdão.

Vou rezar pelo Daniel :)

Luís Cardoso disse...

Muito bonito, Francisco, instrutivo, piedoso, estimulante.
Por mim, agradeço.
Um abraço,