O mais biblista verá os sanctos lutando contra os demónios com as armas da fé e dos sacramentos, transmitidos ao longo de sæculos pela tradição da Egreja. Hiccup seria um heresiarca apóstata que pactua com o maligno a fim de conseguir a felicidade mundana para o seu povo, e a condenação eterna.
Já o pai mais positivista, e com queda para a psychanályse, explicará ao seu filho como curar a neurose de que todos nós padecemos, libertando-se dos constrangimentos do super ego e deixando o seu id florescer a seu bel-prazer.
Por outro lado, o leitor mais assíduo deste blog identificará Hiccup com um esquerdista dhimi e naïf, um visionário iluminado e sacrificado (coitadinho...), que não pretende senão uma pás frutuosa com o islão, elucidando o seu povo sobre a sua antiga ignorância e obstinação em aceitar o estranho como sempre bom.
E por aí adiante. Mas o que mais me preocupa (vamos dar de barato a virilização da rapariga) é a desautorização dos pais e o esbater da fronteira entre o bem e o mal. Qual é a ideia de mostrar num filme para putos que gerações consecutivas estiveram erradas e que para se ser feliz mais vale romper com a tradição dos pais do que seguir as suas passadas? Não será antes melhor os filhos seguirem a educação dos pais, que com certeza têm muitos defeitos, do que apagar o papel parental e passar a educação dos filhos para outrém que não a família? Desautorizar os pais é uma característica clássica dos regimes totalitários, desde o mundo antigo até ao hodierno.
Já para não falar de que tal ruptura com a tradição é apresentada como solução para um eventual complexo de inferioridade, o qual como sabemos pode surgir na infância e início da adolescência, fruto da desadaptação da criança ao papel de adulto e da rejeição pelas outras crianças seus pares coætâneos. Até podemos traçar paralelos com a crise de identidade sexual experimentada pelas crianças adolescentes que mais tarde se rendem ao homossexualismo. Se não, leiamos a sinopse oficial:
"Esta divertida aventura que tem lugar no lendário mundo de Vikings corpulentos e dragões ferozes, baseada no livro de Cressida Cowell, conta a história de Hiccup, um jovem Viking que não se encaixa lá muito bem na tradição dos heróicos exterminadores de dragões.
A vida de Hiccup fica de pernas para o ar, quando encontra um dragão que o desafia a ele e a toda a sua tribo, a ver o mundo de uma nova perspectiva."Depois vêm os problemas de consciência que o filme poderá causar. Os miúdos nestas idades precisam de saber que há coisas sempre más, e coisas sempre boas, e que são diferentes umas das outras. Ver um filme destes lança o precedente na cabeça da criança de que o bem nem sempre é bom, e o mal nem sempre é mau, e de que os culpados dos sofrimentos da criança são os erros dos adultos. Claro que nós, adultos de consciência (mais ou menos) bem formada, vamos tendo ao longo da vida essa experiência de aprendizagem, e as grandes questões para nós são as dilemmáticas, em que nem o sim nem o não estão certos, mas antes cabe-nos a nós sujeitos reformularmos a pergunta e encontrarmos uma terceira escolha mais perfeita, baseada no bem que temos por correcto. Mas, para uma criança, estas dúvidas são desestruturantes e nada benéficas. Como será o nosso mundo dentro de duas ou três gerações, se não houver consciência do bem e do mal?...
É óbvio que este filme é mais uma jogada dos revolucionários culturais para demolir a civilização e instaurar um regime tyrânico. Não é só nos filmes porno que se movem, nem nos restantes géneros do cinema, que já quase todos estão contaminados por certa agenda ideológica e política. Também devemos ter cuidado com os filmes para crianças, e sobretudo não dar a comer aos nossos filhos uma comida que não presta. Apelo a que os pais se informem sobre os filmes que deixam os filhos ver, nem os deixem à solta nessa escolha. Para o filme do dragão, poderão visitar os sites oficiais, português e americano.
Mas também para os restantes filmes há recursos úteis. Por exemplo, a Conferência Episcopal Cathólica dos E.U.A. tem um site muito bom com uma breve sinopse, recomendações e classificação etária credível para quase todos os filmes exibidos nos States, tanto de agora como os já passados. Vão publicando à medida que os filmes estreiam. Deixo os elos para os critérios usados pelos censores, para uma lista dos melhores filmes de sempre e por década, e para o juízo emitido sobre este filme (muito menos alarmista que o nosso).
Aconselho ainda o Father Robert Barron, que costuma dar as suas opiniões muito informadas sobre alguns filmes seleccionados. Quiçá se pronuncie sobre a dragonada.
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