25.9.11

Informação contra a contra-informação sobre a execução de Troy Davis (2)

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Pena de morte

No mesmo dia, a justiça americana executou dois condenados à morte. Na Geórgia, o infeliz chamava-se Troy Davis, de 42 anos e julgado em 1991 pelo assassínio a tiro de um polícia. No Texas, a sorte (em sentido lato) calhou a Lawrence Brewer, 44 anos, julgado em 1998 pelo assassínio mediante agressão e tortura de um transeunte a que dera boleia. Até à última hora, multiplicaram-se os apelos em favor da clemência para Davis, movimento que ultrapassou os EUA e chegou à União Europeia e ao Vaticano. Não houve apelos ou movimentos nenhuns no caso de Brewer. A história de Davis levou milhares às ruas em protesto e suscitou um frenesim mediático. Brewer chegou ao fim sozinho, se descontarmos umas dúzias de apoiantes ou contestatários desse fim. Davis era preto e a sua vítima branca. Brewer era branco e a sua vítima preta, cujo filho, aliás, foi o autor do único pedido de clemência para o texano.

Não gosto dos que se opõem à pena de morte de forma localizada e apenas para relembrar a essencial malignidade da América. Prefiro os que se opõem à pena de morte em geral e lamentam a sua continuidade num país essencialmente livre como é a América. A primeira escola de pensamento (digamos) está bem representada na diferença de tratamento concedida a Davis e a Brewer. A segunda não instiga nem aceita diferenças.

Discordar da pena de morte é discordar do princípio que lhe é inerente, ou seja a legitimidade de o Estado dispor literalmente da vida dos cidadãos. Não é decidir o juízo conforme as circunstâncias, incluindo a cor da pele do criminoso (Davis tinha a "correcta"), a cor de pele do alvo do crime (o polícia tinha a "incorrecta"), as dúvidas na sentença (alguns testemunhos incriminatórios de Davis reverteram depois a posição inicial) ou o carácter dos sentenciados (parece que Brewer era racista e matou por ódio). A oposição à pena de morte é também, ou principalmente, a oposição a aplicá-la naqueles em quem não reconhecemos o mais leve vestígio de humanidade.

O resto é sentimentalismo, em parte patrocinado pelos "media" que distribuíram a atenção de acordo com a respectiva "agenda" e concluem agora que o ruído motivado pela execução de Davis ajudará, a prazo, a decidir a abolição de uma herança selvática. Nunca se sabe. Mas o silêncio na execução de Brewer não ajuda nada.

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